Travessia.

Enquanto caminha os pés conhecem a terra, quando correm levantam poeira de gerações, num estudo de espaço todo andar é cauteloso de sua maneira, uns poucos tropeços se entorpecem de boas energias de certezas de esperanças.

Os caminhos de cada um as vezes se encontram, nas temporadas da vida um destino faz travessia no outro, então os pés dançam, constroem paços novos, numa coreografia perfeita, então as visões se baseiam no ver, e muito se esquece de como é sentir, tanto o calor nos pés, quando os sentidos da vida, sentidos que nos fazem atravessar a vida.

Pertinho, colando a alma.

Então eu digo, fico perdida, é tanta vontade de estar ao seu lado que parece até que sou uma parti de tu que deixaste cair por ai em algum passeio.

Um encaixe perfeito pra ti.

Seria eu?

Quem sabe, o que sei é que faz falta, faz vontade, uma movimentação no coração e eu apenas querendo entender por qual motivo ainda não estou com você.

O destino talvez seja mesmo o dono do entendimento, mas quem dera ele me livrar desse tormento de não saber se mais tarde eu lhe ouvirei me chamar.

Eu ouvirei tu me chamar.

Chamar de amor.

Pra sentir falta.

Faz falta o que a gente gosta, faz falta o que nos faz bem, sentimos tanta a ausência de amores que não conseguimos nos concentrar em nem um bem.

Toda vez o sentir chega, com ele aquele aperto no coração vem, que é pra lembrar quanta falta nos faz sentir tão bem.

Estamos na linha de corais coloridos demais pra desviar a atenção, mas mesmo assim no preocupamos com tempestades em alto mar, sei lá, numa dessas paranoias bem que podíamos encontrar todos os rodopios da alma que nos deixa sentir falta de rodopiar.

 

Cheirinho.

O cheiro das coisas

cheiros de todo o universo

cheiros me encantam

sentir, cheirar

o amor de um narizinho bom

É adorável poder guardar uma memória boa e aciona-la sempre que sentir aquele cheiro de nostalgia

é pura alegria sentir o cheiro do seu amor, aquele cheiro de chamego que te faz querer namorar o dia inteiro

cheiro doce

cheiro suave

cheiro forte que chega amargar

os cheiros da vida estão correndo pelo tempo

sente

cheiro de florear

Desfruto.

Enquanto o mundo correr tudo será constante, as paradas não existem por isso a atenção para o momento deve ser uma das prioridades

trabalhamos muto para chegar em algum lugar e mesmo muitas das vezes fadigados abrimos um sorriso largo para descansar sem reclamar.

O coração as vezes aparta sem saber se vai dar certo, mas o certo é relativo quando se tem outras formas de pensar

a visão ampla

a cabeça aberta

e a vida vivida de euforia coberta

Então vem o fruto dos minutos, vem a recompensa de não desistir, vem aos poucos motivos pra sorrir,

lembranças de um tempo bom.

Contos Do BAR DA ESQUINA.

Mas que bar é esse?

Pais e filhos era a trilha sonora daquela noite, a voz de Renato Russo ecoava no ambiente cavernoso do bar da esquina, a chuva lá fora trazia um cheiro de umidade para dentro, e o frio vagava como rei, sendo intimidado apenas pelos casacos grossos e as goladas de bebidas quentes que fazia até barulho.

Era segunda a noite, onze e meia, meia noite e meia, tanto faz a hora não é preocupação para quem usa do bar da esquina como opção de “passeio”. O bar ficava no andar de baixo do casarão da família Miklous.

Nesse tempo dos Miklous só restavam dois irmãos, o casarão era de estrutura antiga, a pintura era verde água só que já desbotava, em cima ficava a casa, que na maioria das vezes estava de janelas abertas.  O interior do bar tinha um papel de parede vinho, e moveis de madeira, havia vasos de flores, não havia flores dentro, apenas galhos secos de uma natal passado. As decorações eram gesso, acompanhava até o chão onde o  piso de assoalho fazia gemidos com cada passo dado.

Johan limpava o balcão com sua flanelinha amarela, ah claro, Johan era o garçom, balconista, caixa, faxineiro, segurança e sócio do bar da esquina, alto e esguio ele dava medo, seus olhos pretos e fundos davam calafrios, sua boca grande e enrugada dava desconfiança, mas sua voz rouca e baixa apenas dava tranquilidade. Apesar da imagem grotesca e bruta Johan era o irmão bom, não se metia em confusão atoa, só quando era necessário.

Johan tinha uma filha, ela se chamava Virginia, Virginia tinha uma mãe que se chamava Loretta, mas Loretta morreu no parto de Virginia, Johan amou e amava Loretta, mas como ela se foi Virginia ganhou todo o amor multiplicado por Cinco que era sua idade, quando não queria dormir, descia para o bar e sentava nas escadas dentro do balcão dava moedinhas para o pai colocar músicas na maquina, quando não era Gatinha manhosa, ela ouviu O tempo não para, mas gatinha manhosa era sua preferida. Esta noite Virginia estava na escada, sentada com um pijama lilás listrado, e pantufas vermelhas, esta noite Virginia não tinha moedas, então ela ficava ali apenas fazendo cara de dó para tentar arrancar moedas do papai, o que quase nunca acontecia.

O Publico concentrado no bar da esquina aquela noite somava oito pessoas, era para ser nove, mas preconceituosamente ninguém contava Betorelho como pessoa, pois Betorelho estava mais para porco bêbado. Mas Betorelho era um bom porco, só que bêbado.

Um trio de amigos estavam sentados na mesa perto da lareira, estavam fugindo da faculdade com certeza, suas caras de acabados e os livros exageradamente grandes os acusava. Uma magrela ruiva sorria, um homem careca bebia, e outra magrela morena se entediava, falavam do mesmo assunto, mas parecia nem se conhecer muito bem.

As pessoas que geralmente frequentavam o bar da esquina já estavam no auge de suas vidas medíocres e chatas, não tinha mais admiração por nada, não tinham animo para nada, estavam simplesmente perdidas, por isso o bar da esquina era o bar mais calmo da região, mas era também o mais triste, e o mais frio.

Duas senhoras na casa dos cinquenta anos estavam na mesa 13 bem no meio perto do castelo das aranhas, só para constar, castelo das aranhas era um lustre amarelado, grande e infestado de teias que ficava alojado bem no meio do teto do bar um pouco a frente da claraboia, quem deu esse nome ao lustre foi Virginia em uma tarde de verão quando seu pai limpava as decorações de gesso.

– Papai o senhor não vai limpar o castelo das aranhas?

Johan sorriu e olhou para a filha dizendo:

– Mas me diga querida, se eu limpar o castelo das aranhas pra onde é que elas vão?

Virginia pôs os dedinhos gorduchos no queixo como de costume quando era questionada. Pensou, pensou, olhou para o pai e disse. Levantando um palitinho e usando-o como espada estufou o peito dirigindo-se ao pai.

– Não ouse tocar no castelo das aranhas cavaleiro magrelo! Eu o protegerei até o fim!

– Deixe-me ser seu alazão, pois não quero ser cavaleiro magrelo.

Questionou Johan com uma cara de insatisfação no rosto, Virginia em um pinote montou nas costas do pai que saiu pulando como cabrito por entre mesas do bar. E assim nasceu o castelo das aranhas.

Domingas e Dolaci, eram duas senhoras regateiras, olhava para a bunda dos mocinhos, e ainda comentavam, ficavam de buchicho quando um senhor bem arrumado entrava no bar, elas iam todas as noites de segunda a segunda ao bar desde que viraram viúvas ao mesmo tempo de seus maridos que morreram soterrados uma construção irregular, não ganharam pensão, não ganharam indenização, foram largadas e rejeitadas pelos que deveria ajuda-las por assassinar seus maridos, mas nada aconteceu, então resolveram morar juntas e desde então começaram a frequentar o bar da esquina, riam e cantarolavam, mas quando tocava Sweet Lost Love, se abraçavam e choravam, deixava então transparecer a tristeza que mesmo com sorrisos e regateio jamais saíram de seus corações, desde que abandonaram seus companheiros em caixas grandes de madeira. Esta noite Dolaci bebia cerveja preta e comia bolinhas de carne moída, Domingas estava de pé ao lado da mesa dançando com passinhos tímidos ao som de Legião.

Logo na mesa 12, atrás das duas amigas viúvas, estava um ser, um homem, um garoto na verdade, 25, 26 ou 27 anos, jaqueta de couro, calça jeans azul clara, blusa branca regata, tinha pele escura, não muito escura, era mais um moreno, cabelo preto e bem penteados, meio vitage. Ele carregava uma bolsa, pela silhueta o que estava dentro era um violão, talvez ele fosse músico, ninguém sabia, não por enquanto, mas pela situação do bom moço logo, logo, era virariam parte da decoração. Bebia apenas um copo de cerveja, trouxe uma flor da rua e colocou dentro da garrafa. Olhava para o castelo das aranhas, sorria, olhava para a clara boia, observava as gotinhas de chuva dançando, se perdia.

O Bar da esquina era exatamente a casa dos perdidos, onde os lastimosos, os cansados, os tristes e os esgotados podiam sentar, e apenas ficar lá.

Cão Jovem, late.

Estoura o vinho quente dentro do pulmão,

haveria um salvador para a juventude desregulada?

Valiam o dobro ou nada, porém não viam o lucro de seu trabalho.

Eram como uma tropa de ninguém despencados sobre os cadáveres dos que se foram antes, tropeços a frente, se tratava de limites, eles pulavam, destroçavam, e cuspiam a ditadura, seguiam seus próprios conselhos e não se acalmavam com incenso e som comum.

Lobos disfarçados de pivetes, a agulha achatada, defendiam-se com palavras, uivos.

Sobravam-lhes insultos, faltava-lhes colo.

Sempre faltou.

Mas aprenderam a andar,

agora caminham sozinhos,

é época de caça,

e eles não correm como uma lebre, mas atiram feito o caçador.

Um passo a frente dos porcos, enquanto os reis contam notas, eles contam miras.

Não existe mais tempo de treino, a guerra é jovem, e a carcaça é lei.

Joga a primeira dama, pois os cães de rua já deram MATE.

banksy

Não se preocupe.

Entenda criança, tudo vem, de onde, como ou quando ninguém sabe, mas vem.

Por tanto não se apresse, não corra demais, saia do lugar mas não se perca em desaforo, tudo vem, quando tem de vir, virá e tu saberá quando chegar.

Por isso criança, não se chateie se demorar, não se magoe se atrasar, vai chegar.

A vida corre feito moleque na rua atrás de pipa ou bola, mas a mesma tem a cautela do ponto cruzado de uma bordadeira.

Saiba se aquietar.

Não corra, deixe a vida fazer isso, mas não vire raiz num só lugar, deixe seus galhos crescerem, deixe sua alma dançar mundo a fora e logo sem demora tudo no seu devido tempo chegará.

Vem

tudo vem.

Não se preocupe criança.